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sábado, 28 de julho de 2012

Estudo britânico questiona por que somos bípedes

Dois cientistas britânicos usaram um punhado de equações para colocar em xeque uma das hipóteses mais aceitas para explicar por que, afinal de contas, os ancestrais da humanidade adotaram a locomoção bípede [geralmente, tudo o que eles dispõem é de especulações e equações]. Para eles, alguns cálculos simples indicam que é bobagem a ideia de que a postura ereta foi uma forma de evitar o superaquecimento do corpo debaixo do sol africano [ah, não! Cai por terra mais uma crença que me incutiram desde a infância...]. Essa estratégia evolutiva só funcionaria se, antes disso, os primeiros hominídeos (os ancestrais do ser humano) virassem macacos sem pelo [e por que viraram? Qual a vantagem disso?], coisa que provavelmente só aconteceu depois do surgimento do andar bípede. Graeme Ruxton, da Universidade de Glasgow, e David Wilkinson, da Universidade John Moores em Liverpool, publicaram suas conclusões em edição recente da revista científica americana PNAS.

Para os especialistas em evolução humana, andar com dois pés (em vez de usar quatro patas, como os outros primatas) é o que define a linhagem dos hominídeos. É um dos poucos consensos numa área de pesquisa polêmica, na qual ninguém se entende sobre quase nada. Fora o fato do bipedalismo, porém, todo o resto ainda está no ar. Os fósseis mais antigos com indícios dessa característica chegam perto dos 7 milhões de anos [segundo a cronologia evolucionista], mas há quem questione as credenciais bípedes dos bichos. A característica só aparece de forma mais confiável há 4,5 milhões de anos [idem].

E, quando se chega às causas do fenômeno, a coisa fica muito perto de virar um vale-tudo [quando se buscam as causas da evolução, geralmente é isto o que acontece: vale-tudo]. Sem muitas evidências diretas nas mãos, os bioantropólogos acabaram atirando para todos os lados (veja infográfico abaixo). [Biólogos evolucionistas também têm suas metralhadoras giratórias.]

Até uma suposta fase aquática da evolução humana chegou a ser invocada, já que seria mais fácil ficar dentro d’água e atravessar rios e lagoas com a postura bípede.

Nem todas as hipóteses são malucas assim. Uma ideia simples e elegante [elegante não é sinônimo de verdadeira] é levar em conta o equilíbrio de calor ligado às diferentes posturas no ambiente em que a postura bípede teria evoluído - para muitos, áreas abertas da África tropical. O raciocínio é que, dependendo da posição do corpo, a luz solar esquenta o sujeito de maneiras diferentes. Por esse critério, ficar em pé debaixo de sol quando se é bípede dá menos calor do que fazer a mesma coisa sendo quadrúpede.

O problema é que esse cálculo tinha sido feito de forma estática, com o hominídeo teórico paradão. Os britânicos Ruxton e Wilson refinaram as equações originais, adicionando movimento a elas. [Ou seja, partem do pressuposto de que essa evolução se processou, desenvolvem equações baseadas nessa pressuposição e assumem os resultados como “fato”. Ciência experimental é isso?]

E aí a coisa muda de figura, afirmam os autores. Em movimento e debaixo de sol, um hominídeo peludo como os chimpanzés atuais, mas bípede, conseguiria caminhar, no máximo, entre 10 e 20 minutos antes de superaquecer e ter um caso sério de insolação. Por outro lado, um hominídeo com pelos corporais esparsos e glândulas sudoríparas abundantes, como seus descendentes hoje, teria possibilidades bem maiores de dissipar calor e se dar bem com a postura ereta.

É por isso que eles concluem que o caminhar com duas pernas em ambiente aberto exigiria o corpo relativamente pelado como pré-requisito. Do contrário, não teria sido favorecido pela seleção natural.

A questão, claro, é saber qual dessas características evoluiu primeiro. De novo, as evidências são limitadas. A pista mais direta é meio constrangedora: os piolhos que afetam os pelos pubianos humanos. A linhagem deles existe há 3 milhões de anos [outra suposição que pode dar fôlego àquela suposição...].

Como os outros grandes macacos não possuem pelos pubianos, imagina-se [tudo, na verdade, se trata de imaginação] que foi nessa época que os hominídeos perderam seus outros pelos e ganharam esses. Seja como for, parece ter sido depois da invenção [!] evolutiva do bipedalismo.

Resumo da ópera: o jeito de andar característico da humanidade ainda é um mistério evolutivo [sem contar os outros inúmeros mistérios – tidos como verdade. – MB].

(Folha.com)

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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Mais um fóssil de ancestral comum = imaginação fértil

[Meus comentários seguem entre colchetes.] Pesquisadores da Universidade de Michigan, Estados Unidos, descobriram o crânio de um animal de 29 milhões de anos [segundo a cronologia evolucionista] que pode ser o ancestral comum de macacos da família Cercopithecidae, conhecidos como macacos do Velho Mundo, e hominídeos, incluindo humanos. O crânio da espécie que era desconhecida tem algumas características que são comuns entre macacos do Velho Mundo, hominídeos e humanos [note, pela foto, que tudo o que os pesquisadores têm é um fragmento de crânio]. A descoberta, feita na Arábia Saudita e relatada na revista especializada Nature, indica que hominídeos e macacos do Velho Mundo se diferenciaram milhões de anos depois do que se pensava anteriormente [note a sutileza do texto: inicialmente dizem que o fóssil "pode ser", depois afirmam que ele "indica". Tipo comum de manipulação].

O pesquisador que liderou o estudo, William Sanders, afirmou que a descoberta do crânio do animal, batizado de Saadanius hijazensis, foi "extraordinária". "O Saadanius é mais próximo do grupo que levou aos humanos", disse Sanders. "Se soubéssemos algo sobre o período e a condição em que este animal viveu, poderíamos descobrir o que causou as mudanças que levaram à (evolução) de hominídeos e homens", acrescentou. Para o pesquisador, o Saadanius pode até ter sido o ancestral comum que liga os humanos aos macacos do Velho Mundo. "Pode ter existido um conjunto de criaturas muito parecidas e uma delas se transformou em nosso ancestral", disse. "Precisamos sair a campo e conseguir mais dados antes de fazer mais afirmações." [Só que já estão fazendo afirmações.]

Os restos fossilizados indicam que o primata parecia muito com um macaco moderno do Novo Mundo, como o macaco-prego. Mas, provavelmente, ele era um pouco maior, cerca do tamanho de um gibão. O animal teria usado os quatro membros para correr em volta das árvores. De acordo com os cientistas, durante o descanso, a criatura provavelmente ficava nas árvores ao invés de se sentar no chão. [Gostaria de saber como deduzem tanta coisa com base num fragmento de crânio apenas...]

A descoberta sugere que a diferenciação entre hominídeos e macacos do Velho Mundo ocorreu muito mais tarde do que os estudos genéticos sugeriam. Estas pesquisas indicavam que a diferenciação teria ocorrido entre 30 milhões e 35 milhões de anos atrás. A nova data, 29 milhões de anos atrás, se aproxima mais do que os pesquisadores esperam e não surpreende do ponto de vista paleontológico [a busca dos evolucionistas é sempre pelo que eles esperam e não pelo fato em si, e o fato parece ser o seguinte: o fóssil é de um macaco que querem que seja o de um ancestral -

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Mais semelhanças entre homens modernos e neandertais

Os cérebros do homem de Neandertal e do homem moderno, similares no nascimento, divergem em seu desenvolvimento a partir do primeiro ano de vida, segundo um estudo conduzido na Alemanha e publicado nesta segunda-feira nos Estados Unidos. Os cérebros dos recém-nascidos humanos e do homem de Neandertal têm quase o mesmo tamanho e parecem idênticos, segundo essa pesquisa publicada na revista americana Current Biology. Mas é após o nascimento, e sobretudo durante o primeiro ano de vida, que o cérebro do homem de Neandertal, extinto há cerca de 28 mil anos [segundo a cronologia evolucionista] por razões desconhecidas, e o do Homo sapiens se diferenciam. A descoberta é baseada em comparações de impressões virtuais, em diferentes idades de desenvolvimento, de circunvoluções cerebrais e estruturas vizinhas do interior dos crânios fossilizados de homens modernos e de Neandertal, incluindo os de recém-nascidos.

As diferenças observadas cedo no desenvolvimento do cérebro refletem provavelmente mudanças nos circuitos e conexões cerebrais, explica Philipp Gunz, do Instituto Max Planck de Antropologia da Evolução na Alemanha, principal autor do estudo. É, na verdade, a organização interna do cérebro que conta mais para as capacidades cognitivas, acrescenta.

"No homem moderno, as conexões entre as diversas regiões do cérebro são estabelecidas durante o primeiro ano de vida e são importantes para um grau avançado de socialização, emoção e funções de comunicação", expôs o pesquisador em uma entrevista à AFP.

improvável que o homem de Neandertal percebesse o mundo da mesma forma que nós percebemos", acrescentou, destacando, no entanto, que nossos primos de evolução não eram burros.

"Eram caçadores sofisticados, altamente especializados. Por isso, é improvável que os homens de Neandertal fossem totalmente privados de linguagem, apesar de ignorarmos o grau de sofisticação dessa capacidade", acrescentou o pesquisador.

(UOL Notícias)

Nota: Com tantas improbabilidades, admira que haja pessoas que deem crédito a essas especulações. Com base em fósseis, antropólogos parecem conhecer tanto de neurofisiologia quanto os neurologistas que estudam cérebros reais (não virtuais). Quando vão admitir, diante de tantas similaridades, que neandertais eram simplesmente humanos? (Pior que isso, só mesmo a pesquisa que afirma que o neandertal era mais promíscuo que o homem moderno pelo fato de ter o dedo anelar mais longo!)[MB]

terça-feira, 24 de julho de 2012

Ferramenta era usada muito tempo antes do imaginado

Os ancestrais do homem moderno [sic] começaram a utilizar ferramentas de pedra para consumir a carne ou a medula óssea de grandes mamíferos há aproximadamente 3,4 milhões de anos [segundo a cronologia evolucionista], ou seja, 800 mil anos antes do que se acreditava até agora, segundo estudo publicado nesta quarta-feira (11). A famosa australopithecus Lucy, cujos restos foram encontrados na Etiópia em 1974, pode ter utilizado ferramentas de pedra, segundo a equipe internacional de paleontólogos dirigida por Zeresenay Alemseged, da Academia de Ciências da Califórnia. “Agora, quando imaginamos Lucy buscando comida na África do Leste, a vemos com um utensílio de pedra na mão, em busca de carne”, afirma Shannon McPherron, em um comunicado do Instituto de Antrolopogia Evolutiva Max Planck da Alemanha.

Dois ossos fossilizados foram encontrados na Etiópia, um fêmur de um mamífero do tamanho de uma cabra e uma costela de um animal grande como uma vaca, com marcas de golpes, talhos e cortes, indicando a utilização de ferramentas de pedra para extrair a carne ou a medula óssea.

Os fósseis encontrados em Dikika, no nordeste da Etiópia, datam de 3,39 milhões de anos [idem], segundo as análises, antecipando em 800 mil anos um momento-chave da evolução do homem. “Essa descoberta avança consideravelmente o momento a partir do qual nossos ancestrais mudaram completamente as regras do jogo”, declarou Alemseged no comunicado. “A utilização de utensílios modificou enormemente sua interação com a natureza, permitindo a eles comer novos tipos de comida e explorar outros territórios”, explicou, acrescentando que será preciso revisar os conhecimentos sobre a evolução humana.

“Isso quer dizer que os Australopithecus afarensis como Lucy ou a bebê Selam utilizavam utensílios de pedra.” Selam, uma australopithecus morta aos três anos de idade, teria vivido há 3,3 milhões de anos [idem], 200 mil anos antes de Lucy.

Até agora, as provas mais antigas da utilização de utensílios de pedra ou de animais provenientes de Buri ou Gona, na Etiópia, remontavam a 2,5 ou 2,6 milhões de anos [idem], recordam os autores deste estudo, publicado na revista Nature. Mas os pesquisadores ainda não foram capazes de estabelecer se os utensílios eram fabricados. “Um de nossos objetivos é voltar onde encontramos os fósseis e tentar achar os utensílios”, afirmou McPherron.

Os pesquisadores sugerem que só o fato de utilizar tais utensílios mostra que nossos ancestrais competiam com outros carnívoros pela comida, e que isso pode ter iniciado o trabalho em equipe dos humanos.

(G1 Notícias)

Nota: Deixando de lado as tradicionais especulações criativas em torno de achados mínimos, chama atenção o fato de que a “bem estabelecida” história evolutiva humana vive carecendo de revisões e que cada vez recua mais no tempo a engenhosidade humana (assim como a complexidade dos seres vivos). Se as descobertas continuarem nessa direção, logo faltará tempo para a evolução ter se processado.[MB]

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Bispo católico admite unicidade humana

Em meu programa de mestrado em Teologia estou lendo o livro Antropologia Cristã (Ed. Vozes), do bispo franciscano Valfredo Tepe. Na página 226, encontrei esta pérola: “A religião cristã nasceu do tronco de Israel. Ao ser transportada ‘para os gentios’, se inculturou no helenismo, reinante naquela época. A Sabedoria bíblica como que se identificou com o Logos grego. Na época patrística, os padres gregos, responsáveis pela inculturação, usaram os instrumentos da filosofia grega. Conseguiu-se uma perfeita transição? O conceito platônico da alma imortal não corresponde exatamente ao conceito bíblico do ser humano. A dicotomia latente da filosofia grega corpo x alma – exacerbada depois por Descartes – não é afirmada pela Bíblia. O ser humano é antes espírito em corpo. Este ser individual, pessoa humana, morre quando a união entre espírito e corpo se desfaz. Não sobrevive a alma, ‘libertada’ do corpo mortal. O que sobrevive é o amor. Deus é amor. Deus é imortal. Quando Ele ama torna imortal o amado. ‘Tu não podes morrer’ – na boca de Deus não é uma proclamação romântica e irreal. ‘Eu digo e faço’ (Ez 36:36). Quando Ele diz, ao criar um ser humano: ‘Eu te chamei pelo nome, tu és Meu’ (Is 43:1) e ‘Com amor eterno Eu te amei, por isso conservei para ti Meu amor’ (Jr 31:3), nos garante vida eterna. Ele cria um interlocutor para sempre, cria o eu metafísico que dá ao indivíduo humano sua dignidade de pessoa desde o instante de sua concepção.”

Clique aqui para saber mais sobre o estado do ser humano na morte.

PEDIDO: este blog está participando do concurso TopBlog. Se você quiser dar seu voto, é só clicar aqui. Muito obrigado!

domingo, 22 de julho de 2012

O cristianismo é bom para o mundo?

O livro tem apenas 77 páginas, por isso mesmo dá para ler de uma assentada, mas também por isso mesmo nem chega perto de esgotar o assunto que se propõe elucidar: O cristianismo é bom para o mundo? Trata-se do debate entre o jornalista ateu Christopher Hitchens e o teólogo liberal Douglas Wilson. O prefácio de John Goldberg é uma pérola: “A história do cristianismo não é absolutamente imaculada, conforme Christopher Hitchens deixa claro e Douglas Wilson admite, mas o cristianismo pelo menos oferece instrumentos para condenar os que praticam o mal em seu nome. Há muitos ismos ‘seculares’ que não têm condições de alegar o mesmo. Eles precisam – ou preferem – simplesmente redefinir o mal como deslealdade para com a Causa, ao passo que todo mal praticado em prol da Causa é considerado ato de heroísmo. Com toda a certeza, o cristianismo teve seguidores que agiram perversamente em nome de Deus. Mas, pelo menos, ele cultiva uma consciência moral pela qual os homens podem tentar olhar para seus atos com os olhos de um Deus de amor. Diante de algumas alternativas, esse princípio de organização dificilmente parece ser o pior para a humanidade.”

O livro da editora Garimpo é organizado em seis “rounds” e o debate segue educadamente, embora acabe, em minha opinião, sem um vencedor evidente. Hitchens começa por questionar a ideia de liberdade e livre-arbítrio pelo fato de Deus ser uma espécie de “big brother” atento a cada deslize humano (p. 12, 13). E cita Fulke Greville, para quem “fomos criados doentes”, embora nos ordenem que sejamos saudáveis. Assim, Hitchens começa a pintar seu quadro de um deus exigente, vigilante e responsável pelo mal – embora requeira de nós o bem.

Na réplica, Wilson admite que Hitchens possui boa argumentação, mas, em seguida, questiona: “Em face do ateísmo, gostaria que ele [Hitchens] explicasse o porquê do uso da razão. Se Deus não existe, o que é a verdade? Christopher Hitchens manifesta uma enorme indignação moral, mas, em face do ateísmo, gostaria que ele explicasse o porquê de sua prosa vibrante e motivadora. Se Deus não existe, então proteste, protorte, pro&^%...” (p. 17).

Na página 23, Hitchens afirma que é possível encontrar “mais motivos de assombro e reverência num estudo do espaço ou de nosso DNA do que em qualquer livro escrito por um grupo de homens piedosos na era do mito”. De fato, o espaço e as leis que regem o universo causam assombro, tanto que, ao pensar nisso, o maior ateu do século 20, Anthony Flew, acabou se convertendo a Deus. A complexidade do DNA igualmente assombra, e foi no estudo do genoma humano que o ex-ateu Francis Collins repensou suas convicções. Para o leitor atento, o livro da natureza traz a mesma mensagem da Revelação especial, a Bíblia Sagrada: “No princípio, criou Deus” (Gn 1:1).

Na mesma página 23, Hitchens deixa clara sua má compreensão do caráter de Deus: “É claro que não tenho condições de provar a inexistência de uma divindade que supervisiona e vigia cada momento da minha vida e irá me perseguir mesmo depois da morte. (Mas posso me alegrar com a falta de provas para uma ideia tão pavorosa...).” Se Hitchens tivesse estudado a Bíblia com atenção, descobriria que, para quem não quer saber da Vida, não haverá vida após a segunda morte. Deus não “persegue” e muito menos “perseguirá” ninguém, pois essas pessoas não mais existirão.

Wilson contrapõe com perguntas a tradicional alegação de que no Antigo Testamento Deus teria promovido genocídios e massacres, e que os que ensinam essas histórias para crianças foram “condenados pela História”: “Por que deveríamos nos importar com os frágeis julgamentos da História? Deveriam os propagadores desses ‘horrores’ ter se importado? Não há Deus, correto? Como não há Deus, isso significa – você sabe disso – que genocídios acontecem do mesmo jeito que terremotos e eclipses. Tudo é matéria em movimento, e essas coisas acontecem” (p. 27). E Wilson completa: “Diante de seu ateísmo, que explicação você pode dar que nos obrigue a respeitar o indivíduo? Como o seu individualismo flui das premissas do ateísmo? Por que alguém do mundo externo deveria respeitar os detalhes de sua vida e de seu pensamento mais do que respeita o movimento interno de qualquer outra reação química? Nossos pensamentos não passam disso, certo? Ou, se existe uma diferença, poderia você, a partir das premissas de seu ateísmo, fazer essa distinção? [...] A fé cristã é boa para a humanidade porque fornece o padrão fixo que o ateísmo não consegue fornecer e porque proporciona perdão dos pecados, algo que o ateísmo também não pode dar. Precisamos da direção de um padrão porque somos pecadores confusos. Precisamos do perdão porque somos pecadores culpados. O ateísmo não apenas conserva a culpa, mas também mantém a confusão” (p. 29, 35, 36).

A discussão segue a respeito da origem da moral. Hitchens afirma que a moral é “básica e inata” na humanidade. Wilson questiona, dizendo que, mesmo que fosse inata, a moral não seria digna de crédito, já que, para o pensamento ateu, somos fruto da evolução e, portanto, vivemos num universo em mudança. Então, nossa moral inata pode ter sido outra ou poderá ser outra. “Temos primos [evolutivos] distantes cujas mães comiam os filhotes. Isso lhes era inato? Será que eles se desenvolveram porque agir assim não era bom para eles? [...] Se o cristianismo é ruim para o mundo, os ateus não podem afirmar isso com coerência, pois lhes falta um critério fixo para definir o que é ruim” (p. 54).

Com respeito à “coexistência de Deus com o mal”, apontada por Hitchens no quinto round, Wilson responde que prefere Deus mais o problema do mal em vez da ausência de Deus junto com um “Mal? Tudo bem!” (p. 63). Gostei dessa resposta simples porque mostra que, a despeito da relativa dificuldade de seu explicar a existência do mal num universo criado por um Deus todo-poderoso e todo-amoroso, é justamente o conceito de um Deus perfeito e bom que nos leva à indignação contra o mal (por contraste) e alimenta o desejo de buscar algo melhor e de esperar respostas desse Deus.

No sexto e último round, Wilson, como bom pastor, termina fazendo veemente apelo a Hitchens: “[O Senhor] estabeleceu um lar que, além de grande, é acolhedor; há bastante espaço para você. Nada que já tenha feito ou falado será usado contra você. Todas as coisas serão purificadas e perdoadas. Sobre a mesa há comida simples – pão e vinho. A porta está aberta, e vou deixar a luz acesa para você” (p. 77).

Que bom que Wilson concluiu assim o debate! Creio que seriam as mesmas palavras que eu gostaria de dizer com carinho e respeito a todo ateu sincero. Agora só me resta orar por Hitchens e outros que precisam conhecer o Deus verdadeiro e encontrar descanso nEle.

Meses depois de ler o livro O Cristianismo é Bom Para o Mundo?, lendo outro livro – Antropologia Cristã, de Valfredo Tepe (Vozes) –, me deparei com esta citação, na página 244, que me fez lembrar do debate entre Hitchens e Wilson: “Jürgen Habermas, o último dos grandes filósofos da escola de Frankfurt, fez recentemente um discurso que chamou atenção pela abertura positiva para a religião. Afirmou que não conhecia nenhuma alternativa para a herança da cultura ocidental que proveio da ética judaica da justiça e da ética cristã do amor. Dessa substância se alimentaram todas as ideias ‘de liberdade e convivência solidária, de conduta autônoma da vida, da moral de consciência individual, de direitos humanos e democracia’. Tudo o mais seria ‘conversa pós-moderna’.”

sábado, 21 de julho de 2012


 
O risco de um cristianismo pós-moderno: o caso de Leonardo Boff
/ QUESTÃO DE CONFIANÇA / Publicado por Douglas Reis - 05/08/2010 | 23:29h
O ideal de normatização, segurança e conhecimento por meio de técnicas que proporcionem o domínio da natureza marcou a Modernidade. Quando o desenvolvimento tecnológico se revelou dúbio (na ocasião das duas grandes guerras mundiais) e a ciência, ineficaz para solucionar todos os dilemas, a Modernidade entrou em colapso. A partir de então, entramos no período Pós-Moderno. O secularismo (perda do sentido religioso) cedeu lugar a uma espiritualidade difusa. A busca pela Verdade se tornou a tolerância entre muitas verdades (regulamentadas por comunidades interdependentes). O prazer pessoal passou a ser um modelo de vida, substituindo a antiga moral social.[1]
Neste âmbito, o cristianismo enfrenta o desafio de perder sua relevância. Diversas abordagens evangelísticas são propostas para os novos tempos. Ao mesmo tempo, corre-se o risco de sofrer a influência da mentalidade pós-moderna, a qual, inevitavelmente, prevalece sobre certas denominações e indivíduos cristãos.
No presente artigo, abordaremos o risco de nos tornarmos cristãos pós-modernos, exemplificando a questão com o caso do teólogo Leonardo Boff, ex-frei franciscano e um dos proponentes da Teologia da Libertação. Tomamos com base entrevistas dadas por Boff a setores da imprensa e seu mais recente livro, Ética da Vida.[2]
Engajamento contra o cristianismo "acidental"
Leonardo Boff permanece como um dos mais influentes teólogos latino-americanos contemporâneos. Juntamente com Gustavo Gutiérrez e demais pensadores católicos, Boff contribuiu para a criação da Teologia da Libertação, conforme ele próprio depõe: "Foi na ebulição latino-americana, na década de 1970, depois de assumir a cátedra de teologia em Petrópolis, e nesse contexto que junto com outros elaboramos a Teologia da Libertação." Para o ex-frade, a Teologia da Libertação (doravante TL) teria "um olho na realidade conflitiva" (injustiça social) e outro na "reflexão crítica moderna".[3]
No centro dessa teologia, se acha o pobre, que luta e sofre, elemento que constitui, na avaliação de Guilherme Vilela Ribeiro de Carvalho, o seu caráter "pré-teológico". Carvalho chama a atenção para o aspecto revolucionário da TL, uma vez que a única forma de romper a opressão (e "libertar o pobre") se dá com a ruptura do sistema opressor.[4] Um reflexo disso no Brasil está na íntima relação entre a TL e o Movimento dos Sem-Terra (MST). "O MST nasceu da Igreja [Católica] [,] mas hoje tem um curso próprio. É importante que a Igreja tenha lhe dado uma mística e que continue como aliado leal, mas é independente."[5]
Por sua forte influência marxista e seu ativismo político-social, a TL foi condenada pela Igreja Católica e Leonardo Boff, em virtude da imposição do "silêncio obsequioso", renunciou a seu ministério em 1993. Na época, o coordenador do processo contra o ex-franciscano foi Joseph Ratzinger, eleito papa em 2005. Atualmente, Boff continua a lecionar, escrever, dar palestras e participar de comunidades de base. Ele explica seu engajamento divisando dois fazeres teológicos: o primeiro, preocupado em aprofundar as questões da fé e o segundo, que se ocupa com as questões do mundo. Em sua visão, a Teologia deve "pensar os problemas humanos e sociais, sempre, lógico, à luz da pertinência da fé". Caso contrário, se a Igreja Ocidental "não se preocupar em adaptar-se às transformações do mundo, ela ficará cada vez mais acidental."[6]
Cristianismo sem verdade
Boff reconhece que há "uma mudança de paradigma civilizacional". O novo período, que a mídia tem inaugurado com seu papel "quase messiânico", é a "fase planetária". Enquanto a cultura ocidental "homogeneizou toda a humanidade" com violência (o que, diríamos, corresponde à Modernidade), surgiram desigualdades. A solução? "A saída é uma democratização da democracia. [...] Fazer participar o mais possível todo mundo em todas as coisas que interessam a todos. A consequência é mais igualdade e mais satisfação geral."
Para a igreja participar positivamente desse processo, ela tem que aprender a dialogar. "Ou nos abrimos e dialogamos, com os riscos inerentes, ou então nos fechamos e seremos condenados à fossilização, ao dogmatismo, e novamente ao fundamentalismo e às guerras religiosas e ideológicas."[7] Aqui, com maestria, o teólogo define o dilema do Cristianismo, em geral, perante os desafios do Pós-Modernismo - ou dialoga ou se contenta com a irrelevância; porém, se o enunciado do problema ficou claro, o que dizer da resolução apontada?
Antes de responder à pergunta, devemos entender os termos que Boff propõe para o diálogo religioso. Ele defende que o "cristianismo tem que ser uma coisa boa para os seres humanos e não só para os cristãos".[8] Perguntado pela revista Veja sobre a questão do aborto, o teólogo respondeu que a "Igreja não tem o monopólio da ética e da verdade."[9] Em outro momento, Boff declarou ser "preciso que a Igreja abdique do monopólio da verdade, que ela não tem."[10] Como, então, conhecer a verdade religiosa, se não através da mensagem cristã?[11]
Em seu livro Ética da Vida, Boff faz afirmações semelhantes, mas de uma forma mais generalizada, aplicando o que havia dito sobre o catolicismo ao cristianismo como um todo. Ele argumenta que, "renunciando à sua pretensão de deter o monopólio da verdade religiosa", o cristianismo pode dialogar com "outras tradições religiosas", o que servirá para "preservar o que há de mais sagrado nos seres humanos, isto é, seu sonho para cima, sua transcendência, sua abertura para Deus". Esse diálogo é fundamental porque "cada cosmologia, como produz uma imagem do ser humano, produz também uma imagem de Deus",[12] o que, em última análise, compreende a resposta para o homem pós-moderno, aquele que "procura uma cultura espiritual na qual o ser humano em sua subjetividade e gratuidade ocupe um lugar mais central".[13]
E quanto a Deus? DEle "não se pode dizer nada, porque todos os nossos conceitos e palavras vêm depois e derivam do universo. E queremos falar dAquele que é antes do universo. Como?"[14] Em outro artigo, o tema é ampliado: o escritor afirma que o Ser Supremo "não pode ser tão transcendente, pois se assim fosse, como saberíamos dEle? [...] Anunciar um Deus sem o mundo [i.e., sem ter qualquer relacionamento com o mundo criado] faz, fatalmente, nascer um mundo sem Deus"; por outro lado, a imanência absoluta é descartada. "Se Deus existe como as coisas [do mundo físico] existem, então Deus não existe. Ele é o suporte do mundo, não porção dele." Resta então conceber a realidade de Deus como transparência, a qual "afirma que a transcendência se dá dentro da imanência, sem se perder dentro dela [...]". Em síntese, Deus continua "uma realidade concreta, mas sempre para além de qualquer concreção".[15]
Em meio a uma releitura do cristianismo, sob lentes místicas, que se apropria de elementos de outras religiões, Boff cita o trecho de uma conversa que teve com o Dalai Lama, para dizer que a religião verdadeira é a que nos faz melhores, a "que nos faz compassivos, abertos, sensíveis e expostos à vulnerabilidade de todas as coisas. A que nos faz mais descentrados do nosso eu".[16] Com isso, se conclui que alguém não precise ser particularmente cristão a fim de atingir a espiritualidade "onienglobante"[17] defendida por Boff.
Nova embalagem, mesma essência
A proposta de Boff nos leva a questionar o quão cristão seria um cristianismo que abrisse mão de seu exclusivismo, sendo que mesmo Jesus era exclusivista - Ele declarou ser a "Verdade", o único meio de acesso a Deus (Jo 14:6) e que a vida eterna é alcançada somente por quem se relaciona com o Deus verdadeiro e com Ele, Seu representante (Jo 17:3). Além disso, Jesus identificou a Bíblia como a própria Verdade revelada (Jo 17:17). Por toda a Bíblia, profetas, apóstolos e mesmo Jesus lutaram para estabelecer limites bem definidos para a Verdade, em oposição declarada às religiões pagãs, ao sincretismo religioso e a heresias dentro da fé. Seria impossível, dessa forma, conciliar cristianismo e pós-modernismo, porque a fé cristã reivindica possuir a verdade absoluta, revelada por Deus e aplicável a qualquer ser humano em qualquer época.[18]
De que outra maneira responderíamos ao dilema levantado por Boff - ou o diálogo com a cultura ou o isolamento? Sem dúvida, os cristãos não podem se isolar. Entretanto, o diálogo não deve significar perda de identidade e consequente abandono da missão (Mt 28:19-20). Lembremo-nos de que, ao enviar Seus discípulos ao mundo, Jesus sabia de potenciais conflitos religiosos que eles enfrentariam; mas não bastava a pregação a pessoas não-realizadas com suas crenças culturais - todos deveriam ouvir e ser persuadidos, e os que aceitassem se converteriam da autoridade de Satanás para o senhorio do Deus Único (At 26:29). Jesus, afinal, não é Senhor dos cristãos; Ele é o "Senhor de todos" (At 10:36).
Assim, as estratégias podem se adaptar ao momento, nunca a mensagem. "Relacionamentos, amizade, amor e cuidado pelo semelhante são muitíssimo importantes para todo discípulo de Cristo, mas não são tudo o que representa o cristianismo", escreve Aleksandar Santrac. "Se utilizarmos linguagem pós-moderna ou vocabulário não ameaçador, nunca devemos fazer isso a expensas da verdade como revelada na Palavra de Deus." Santrac continua lembrando que evangelismo da amizade não substitui o evangelismo doutrinário, porque Jesus praticou ambos.[19] Semelhante a algumas marcas que, ao renovar determinado produto, inovam apenas na embalagem, o cristianismo do século 21 precisa de nova embalagem para o mesmo conteúdo - a Verdade de Deus, ainda necessária no mundo pós-moderno.
Douglas Reis
1. Para um resumo do desenvolvimento do Pós-Modernismo e suas consequências sobre a espiritualidade contemporânea, ver: (a) Douglas Reis, Paixão Cega: o herói que precisou perder a visão para enxergar (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010), especialmente as p. 8-20; (b) idem, "O que há de errado com a máquina do mundo (e porque o mundo passou a ser visto como uma máquina)?", primeiro capítulo de Marcados pelo Futuro: vivendo na expectativa do retorno de nosso Senhor (Niteroi, RJ: Editora ADOS, no prelo).
2. Leonardo Boff, Ética da Vida: a nova centralidade (Rio de Janeiro, RJ: Editora Record Ltda, 2009).
3. Apolinário Ternes, "A igreja é autoritária, se recusa a ouvir o seu povo", entrevista com Leonardo Boff, A Notícia, 29 de setembro de 1997, p. G3.
4. Guilherme Vilela Ribeiro de Carvalho, "O dualismo natureza graça e a influência do humanismo secular no pensamento social cristão", em Cláudio Cardoso Leite, Guilherme Vilela Ribeiro de Carvalho, Maurício José Silva Cunha (org.), Cosmovisão Cristã e Transformação: espiritualidade, razão e ordem social (Viçosa, MG: Ultimato, 2006), p. 144, 151. Para uma análise mais completa da TL, ver Amin, R. Rodor, "The impact of Liberation Theologies on the church", Kerigma, ano 4 - Número 2, 2º semestre de 2008, p.42-75, disponível em http://www.kerygma.unasp-ec.edu.br/artigo8.03.asp
5. Márcia Feijó, Metáforas de Leonardo Boff, Diário Catarinense, 27 de agosto de 1997, Variedades, p. 5, box "Opiniões de um cidadão engajado".
6. Apolinário Ternes, Op. cit., p. G2.
7. Ibid., G3, G2.
8. Márcia Feijó, Op. cit, p. 4.
9. Ernesto Bernardes, "Teologia da colisão", entrevista com Leonardo Boff, Veja, 16 de agosto de 1995, p.8.
10. Apolinário Ternes, Op. cit., p. G2.
11. Vale lembrar que, para a Igreja Católica, a verdade religiosa se relaciona com, pelo menos, três elementos: as Escrituras, a Tradição e a autoridade do Papa. Indiferente disso, Boff parece criticar não apenas a pretensão católica à verdade, mas à própria definição cristã de verdade, como ficará claro a seguir.
12. Leonardo Boff, Op. cit, p. 113, 81.
13. Apolinário Ternes, Op. cit., p. G3.
14. Leonardo Boff, Op. cit., p. 95.
15. Leonardo Boff, "Transcendência e transparência", A Notícia, 15 de dezembro de 2007, p. A2.
16. Apolinário Ternes, ibid.
17. Leonardo Boff, Ética da Vida, p. 83.
18. Para uma análise crítica mais ampla, ver Douglas Reis, "A verdade ou a vida", capítulo 5 de Marcados pelo Futuro: vivendo na expectativa do retorno de nosso Senhor (Niteroi, RJ: Editora ADOS, no prelo).
19. Aleksandar S. Santrac, "Evangelismo além da amizade", Ministério, ano 79, nº 2, março/abril de 2008, p.23.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

A singularidade de Jesus e do cristianismo

“O que estou tentando fazer aqui é evitar que se diga a maior tolice que muita gente diz por aí, a respeito de Cristo: “Estou pronto para aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas não posso aceitar a sua reivindicação de ter sido Deus”. Isso é algo que não devemos dizer. Um homem que fosse simplesmente um homem e dissesse o que Jesus disse não seria um grande mestre de moral. De duas uma: ou ele seria um lunático – do mesmo nível do homem que diz ser um ovo cozido – ou então seria o próprio Diabo. Você terá de fazer a sua escolha. Ou ele seria, como é, o Filho de Deus, ou então um louco ou algo pior. Você poderia prendê-lo num manicômio, cuspir na cara dele ou matá-lo como a um demônio; ou então, poderia cair a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Porém, não me venha com essas bobagens moralizantes sobre ele ter sido um grande mestre humano. Ele não nos deixou escolha. E nem pretendia deixar. [...]

“Em última instância, parece que a ideia popular do cristianismo é simplesmente essa: que Jesus Cristo não passou de um grande mestre da moral e que, se seguíssemos os seus conselhos, estaríamos em condições de estabelecer uma melhor ordem social e evitar outra guerra. Isso é bem verdadeiro, mas está longe de contar toda a verdade acerca do cristianismo e não tem a mínima importância prática.

“É verdade que, se seguíssemos os ensinamentos de Cristo, estaríamos vivendo num mundo melhor. Você nem sequer precisa chegar a Cristo. Se todos nós tivéssemos feito o que Platão, Aristóteles ou Confúcio nos ensinaram, teríamos avançado de forma um pouco menos desastrosa. Mas, e daí? Nós nunca seguimos o conselho dos grandes mestres mesmo! Por que deveríamos começar agora? Por que seria mais provável seguir a Cristo do que a qualquer um dos outros? Seria por ele ser o maior mestre de todos? Na verdade, isso torna ainda menos provável sermos capazes de segui-lo. Se não aprendemos as lições elementares, seria possível encarar as mais avançadas? Se o cristianismo não significa mais do que um conjunto de bons conselhos, então ele não tem importância alguma. Não estamos sofrendo de falta de bons conselhos nos últimos quatro mil anos. Um pouco mais não faz diferença alguma”.

(C. S. Lewis, Cristianismo Puro e Simples, citado em Um Ano com C. S. Lewis)

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Para Merkel, Alemanha tem escassez de cristianismo

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, recebeu um estrondoso aplauso do congresso do seu partido, a União Democrata Cristã, ao anunciar que o problema da Alemanha não passa por um excesso de islã, mas sim de uma escassez de cristianismo. O comentário de Merkel surge no contexto de um debate alargado sobre a identidade alemã, o lugar dos cerca de 4 milhões de muçulmanos na sociedade e o multiculturalismo, um projeto que a chanceler considera ter falhado. “Não temos demasiado islã, temos pouco cristianismo. Temos poucas discussões sobre a visão cristã da humanidade”, afirmou a política, que em diversas ocasiões já manifestou publicamente a sua fé cristã. A Alemanha precisa de mais debate sobre “os valores que nos guiam e a nossa tradição judaico-cristã. Temos que realçar isso com confiança, então conseguiremos chegar à coesão na nossa sociedade”.

As palavras de Merkel surgem numa altura em que foi tornado público que o seu partido quer passar uma resolução para consagrar a identidade judaico-cristã da Alemanha. Uma medida que não significa a exclusão dos muçulmanos, insiste a chanceler. “Esperamos que aqueles que venham para cá a respeitem [a tradição judaico-cristã], mantendo todavia a sua identidade pessoal.”

A liberdade religiosa não está em causa, adianta Merkel, que aproveitou para deixar uma mensagem sobre as minorias cristãs em países de maioria islâmica, ao dizer: “Claro que somos pela liberdade de cada um praticar a sua fé. Mas a liberdade cristã não pode parar nas nossas fronteiras. Isso se aplica também a cristãos noutros países do mundo.”

(Renascença)

Nota: Esse problema, embora acentuado na Europa, não é exclusividade de lá. Segundo o senso do IBGE do ano 2000, passa de 7% o número de pessoas na população brasileira que se declaram sem religião. A igreja parece estar falhando em três frentes básicas: (1) não está provendo respostas consistentes e que demonstrem a racionalidade da fé cristã para os de mentalidade secularizada e/ou científica, o que evidencia que a boa e velha apologética cristã precisa ser reutilizada com força; (2) não está se mostrando relevante para os pós-modernos que veem as igrejas como museus de doutrinas engessantes e lugar em que faltam relacionamentos significativos, o que mostra que muitos cristãos não estão permitindo que o poder transformador do evangelho lhes contagie a vida e irradie amor desinteressado; e o mais importante (3): não está buscando o poder do Espírito Santo, capaz de abalar o mundo, como aconteceu nos primeiros anos da era cristã, quando um punhado de crentes de origem humilde espalhou a mensagem de salvação em todos os recantos do Império, levando milhões de pessoas à conversão. A igreja cristã precisa redescobrir suas raízes e sua mensagem bíblica

terça-feira, 17 de julho de 2012

O que seria das mulheres sem o cristianismo?

Muito se fala sobre a situação da mulher na sociedade moderna. Acreditam não poucos que há um grande desnível – ou abismo mesmo – entre os direitos e deveres do homem e os da mulher, sendo que essa última tem sido historicamente prejudicada. E não faltam candidatos a carrasco do sexo feminino. A última moda agora é acusar as religiões de forma geral, e o Cristianismo, em especial. Não há a menor dúvida de que existem religiões no mundo que cerceiam os direitos da mulher. O Islamismo é um bom exemplo desse tipo. Tanto seu livro sagrado como sua literatura teológica discrimina e rebaixa gravemente a mulher a ponto de torná-la um objeto de propriedade, primeiramente do pai, e depois do marido. Contudo, neste texto quero provar que não há razão por que colocar o Cristianismo no mesmo cesto das religiões que pejoram a mulher. Mais do que isso, vou mostrar como o Cristianismo colocou a mulher em uma situação muito melhor do que qualquer outro sistema religioso ou filosófico que já existiu.

Um pouco de história. A vida da mulher não era fácil nas culturas antigas. Em geral, eram propriedade dos maridos. Não eram consideradas capazes ou competentes para agir independentemente. Vejamos a Grécia antiga. Aristóteles disse que a mulher estava em algum lugar entre o homem livre e o escravo (considerando que a situação do escravo não era nem um pouco auspiciosa, perceba a pobre situação feminina), e que era um “homem incompleto” (Política). Platão, por sua vez, entendia que se o homem vivesse covardemente, ele reencarnaria como mulher. E se essa se portasse de modo covarde, reencarnaria como pássaro (A República, Livro V).

A sorte das mulheres não era muito melhor na Roma antiga. Poucas famílias tinham mais de uma filha. O casamento romano era uma forma de trazer mais material humano para formação do exército, e assim permitir a Roma a continuidade de sua expansão; por isso, o interesse estava em ter filhos homens. Daquelas, porém, que sobreviveram ao infanticídio, eram-lhes reservadas as tarefas do lar, mas não o exercício da cidadania e a participação política, coisa reservada apenas aos patrícios homens.

Na China, até bem recentemente, o infanticídio era uma prática comum. Os bebês do sexo feminino eram entregues como alimento aos animais selvagens ou deixados para morrer nas torres dos bebês. Adam Smith escreveu sobre essa prática no seu famoso livro A Riqueza das Nações, de 1776. Ele fala inclusive que o descarte de bebês indesejados era mesmo uma profissão reconhecida e que gerava renda para muitas pessoas.

Vejamos outros casos. Na Índia, viúvas eram mortas juntamente com seus maridos – a prática chamada de sati (que significa a boa mulher). Também havia tanto o infanticídio quanto o aborto feminino. Além disso, meninas eram criadas para serem prostitutas cultuais – as devadasis. Nessa prática religiosa, a menina era “casada com” e “dedicada a” um dos deuses hindus. Nos rituais de adoração a esses deuses, havia dança, música e outros rituais artísticos. Conforme iam crescendo, as devadasis se tornavam servas sexuais, de homens e dos “deuses”. Ainda hoje, famílias pobres entregam suas filhas para essas deidades com o objetivo de alcançar delas algum favor, ou ainda obter algum meio de renda com os frutos da prostituição.

Na África, o problema era semelhante à prática do sati da Índia. Quando um líder tribal morria, as esposas e concubinas do chefe eram mortas juntamente com ele. Mesmo hoje, no Oriente Médio, o valor da mulher é mínimo.

A mudança trazida pelo Cristianismo. Que diferença trouxe a vinda de Jesus Cristo entre nós? Muita, em vários pontos. Na verdade, foi uma revolução. Muito do que Jesus Cristo ensinou já era praticado pela sociedade judaica (que era muito diferente das nações à sua volta), e outros pontos tiveram seus termos desenvolvidos por Ele. Mas mesmo os judeus tinham um tratamento discriminatório em relação às mulheres; Jesus, entretanto, Se relacionava de forma saudável com elas. De forma geral, o Cristianismo colocou a mulher em pé de igualdade com os homens. Como ele fez isso?

– Dizendo que ambos foram criados por Deus, à Sua imagem e semelhança (“E criou Deus o homem à Sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” [Gn 1:27]. Para Deus, homens e mulheres têm o mesmo valor [Gl 3:28]).

– Que ambos deveriam dominar e sujeitar a natureza (“E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra” [Gn 1:28]). Não há nada que impeça a mulher, tanto quanto o homem, de explorar a criação em cumprimento ao mandato cultural.

– A decisão de Deus criar a mulher a partir de Adão declara que ambos provêm da mesma essência (Gn 2:22), mostrando que a mulher em nada é inferior ao homem, nem tampouco lhe é superior. E a declaração de Adão mostra que sua mulher, Eva, é parte de si mesmo, tendo o mesmo valor que ele próprio (Gn 2:23).

– Que o casamento, como instituição divina, implica que o homem foi feito para a mulher, assim como a mulher foi feita para o homem, e dessa forma ambos andam como uma unidade em dois corpos (Gn 2:24), o que destrói a ideia de que a mulher é escrava do marido, ou vice-versa. São complementares.

– O Cristianismo também evitou que a mulher fosse injustiçada, não permitindo a poligamia, que é inerentemente prejudicial a elas (1Co 7:2).

– O Cristianismo ensinou o cuidado com as viúvas. Elas, se não tivessem recursos, deveriam ser cuidadas e sustentadas pela igreja (1Tm 5). Se o marido morre, ela é livre para continuar viúva ou casar novamente, se quiser.

– O Cristianismo condenou a prostituição ao declarar que o corpo não pertence a nós mesmos, mas a Deus, e que ele é templo do Espírito Santo (1Co 6:13,19). O corpo do homem pertence à mulher, e o da mulher ao homem (1Co 7:4).

– O Cristianismo aprova a instituição do casamento, que não só protege a mulher da exposição aos males sociais, como provê um ambiente seguro material, espiritual e sentimentalmente para seu desenvolvimento integral (Ef 5:28, 29).

– O Cristianismo protege a vida, que entende começar no momento da concepção. Dessa maneira, nenhuma criança deixa de nascer devido a características indesejáveis (pelos pais) que ela tenha ou seja. A vida é direito inviolável, outorgada por Deus, sendo que somente Ele tem direito de reavê-la (1Sm 2:6; Jó 1:21).

– O Cristianismo também proíbe a pornografia, pois entende que ela é equivalente ao adultério. Com isso, a mulher deixa de ser vista como um objeto aos olhos do homem, e reserva o sexo e a nudez para aquele que tem direito a essas coisas, a saber, o marido (Mt 5:28).

Uma palavra sobre o movimento feminista. Se há algum direito, de qualquer pessoa que seja, que deva ser assegurado, sou completamente a favor da luta por ele. A sociedade falha em tratar as mulheres adequadamente porque ela não é uma sociedade moldada exclusivamente pela moral cristã. Muitos dos direitos pelos quais o movimento feminista luta são justos: direitos trabalhistas iguais aos do homem, proteção contra violência física e emocional, igualdade de direitos civis, entre outros. Porém, alguns pontos pelos quais ele luta não são bons, como, por exemplo, o aborto. Ora, o aborto sempre foi uma ferramenta usada pelo homem – e geralmente usado para evitar nascimento de mulheres! O aborto se refere a algo além do corpo da mulher; é outro ser vivo. Ocorre que, ao lutar por esse “direito”, a mulher trata um bebê ainda não nascido como algo menos que humano, tal como um objeto: ou seja, do mesmo modo que ela própria já foi tratada na história. [E muitas feministas não percebem que estão se oferecendo como objeto às ávidas câmeras de TV, quando protestam usando o corpo nu.] 

Outro problema que eu vejo é que algumas feministas mais exaltadas não querem simplesmente uma equiparação de direitos; desejam ocupar o lugar do homem que as explorava, transformando-se em exploradoras. Almejam uma inversão de papéis. Em lugar de uma sociedade patriarcal, sonham com uma matriarcal. E algumas feministas ainda descambam para a misandria – o ódio pelo sexo masculino.

Concluindo. O que o paganismo faz para proteger a mulher? Nunca fez nada, e nunca fará. E essas outras religiões não cristãs? Normalmente, colocam o sexo feminino em uma posição inferior à do homem. E o humanismo? Nada trouxe de bom para as mulheres. Na prática, uma vertente humanista (evolucionista) ensina que nada há de especial na humanidade; tudo que há é resultante de acaso. Somente o mais forte sobrevive (ou domina). Se for o sexo masculino, assim deve continuar a ser. É natural que seja assim. Não há justificativa moral (do ponto de vista evolucionista) para proibir a violência física, sexual, emocional à mulher, nem mesmo por que condenar posicionamentos machistas. A máxima é “o que agora é, é o certo”.

Mas não é assim com o Cristianismo. Em todos os lugares em que ele chegou, as condições das mulheres melhoraram. Onde ele não chegou, veem-se coisas terríveis, como a eugenia sexual, o infanticídio e a prostituição. Contudo, podemos ver que algumas sociedades, que já foram declaradamente cristãs, hoje estão decaindo moralmente com o avanço do antigo paganismo – legalizando o aborto, o homossexualismo e a prostituição. Seria interessante que algumas feministas, que falam ousadamente contra o Cristianismo, aprendessem um pouco mais da história da humanidade e assim se apercebessem de que, se não fosse por essa religião que elas tanto condenam, talvez elas sequer estivessem vivas hoje.
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domingo, 15 de julho de 2012

Cristãos hoje têm opinião diferente do que Jesus teria

Uma pesquisa liderada pelo professor de psicologia da Universidade Norte-Americana de Stanford, Lee D. Ross, mostrou que as opiniões de grupos protestantes e católicos, liberais e conservadores, são muito diferentes da opinião que o próprio Jesus teria atualmente. O estudo, publicado pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, utilizou uma escala de 100 pontos, que vão desde “mais liberal” a “mais conservador”. Para cada assunto, uma nota seria atribuída para identificar onde Jesus estaria na escala e outra para onde o entrevistado se enquadra. Os principais temas abordados como discordantes entre os fieis e Jesus seriam distribuição de impostos, casamento homossexual e aborto.

De modo geral, os entrevistados disseram que Jesus teria uma postura mais rígida nas questões morais. Os grupos conservadores disseram que o Salvador poderia ser mais compassivo em questões de convivência, como o tratamento com relação a imigrantes ilegais. Já para os liberais, Jesus penderia para a esquerda em questões sociais, como redistribuição de renda.

O relatório destaca ainda a diferença de pensamento nas duas vertentes religiosas. Enquanto os liberais deram mais importância a tópicos relacionados à comunhão, conservadores deram mais peso aos ensinamentos sobre moralidade.

“Os liberais admitem que estão longe de Jesus em Seus pontos de vista sobre questões morais e os conservadores revelam que discordam de Jesus sobre questões de convivência”, explica Ross.

Outra tendência averiguada aponta que os liberais apresentam mais dificuldade em conciliar suas opiniões com o Antigo Testamento, enquanto que os conservadores alegam que muitas vezes os ensinamentos do Novo Testamento entram em conflito com suas opiniões políticas.

Em entrevista sobre o assunto ao site americano U.S. News, Michael Nielsen, estudante das novas tendências da religião e catedrático de psicologia da Georgia Southern University, discorda que a Palavra pode ter duas interpretações e destacou que os ensinamentos de Jesus são apresentados firmemente nas Escrituras e sermões nas igrejas.

“Raramente Seus ensinamentos são apresentados de forma ambivalente”, afirmou. “Isso fornece uma fonte potencial de dissonância para a grande maioria das pessoas, cuja opinião sobre um assunto não é polarizada.”

A pesquisa foi realizada pela internet com um grupo de 1.256 pessoas, mas o foco se deu sobre as 787 pessoas que se disseram cristãs, sendo classificadas entre conservadores e liberais. As respostas foram compiladas e separadas entre os pontos de vista pessoais e os pontos de vista atribuídos a Jesus.

(The Christian Post)

Nota: A questão suscitada por essa pesquisa é a seguinte: Podem ser chamados de “cristãos” religiosos que não seguem os ensinamentos de Cristo? E aqui não me refiro apenas a “detalhes periféricos” como distribuição de impostos, mas a doutrinas, mesmo. Por exemplo: Jesus guardou o sábado e nunca deu a entender ou afirmou que mudaria o dia de repouso dos cristãos. No entanto, a maior parte da cristandade observa como dia sagrado o domingo. E aí, o que dizer disso? Jesus assumia como factuais as histórias de Adão e Eva e do dilúvio global, todavia, muitos cristãos hoje querem desmenti-Lo ao dizer que os primeiros capítulos de Gênesis são mitológicos. Afinal, ou somos cristãos de fato – seguidores de Cristo e de Seus ensinamentos registrados no Novo Testamento – ou não somos

sábado, 14 de julho de 2012

Breve análise das parábolas de Jesus

Jesus demonstrou em Seus ensinos ser o Mestre por excelência. Seu conhecimento e sabedoria causaram admiração aos leigos e educadores de seus dias. A metodologia de ensino era inigualável e as mais importantes universidades foram fundadas por causa dEle. Alguns de Seus ensinos mais sublimes foram expressos em linguagem figurativa, como as parábolas. “Ele não poderia haver usado método de ensino mais eficaz.”[1] A reação dos ouvintes era: “Jamais alguém falou como este Homem” (João 7:46). Um exame minucioso desses ensinos é significativo quando se evidencia que um terço do ensino de Jesus nos evangelhos sinóticos se apresenta em forma de parábolas.[2] O evangelista Marcos comprovou esse fato, quando escreveu: “Com muitas parábolas semelhantes Jesus lhes anunciava a palavra, tanto quanto podiam receber. Não lhes dizia nada sem usar alguma parábola” (Mc 4:33, 34).
O que é uma Parábola?
O conceito popular de parábola é um tipo de figura de linguagem em que se fazem comparações. “No Antigo Testamento, o termo utilizado é marshal, que também é usado para designar provérbio ou enigma.”[3] No Novo testamento, o termo é parabole e “vem do grego para (‘ao lado’ ou ‘junto a’) e ballein (‘lançar’). Assim, a história é lançada com a verdade para ilustrá-la”.[4] “No âmago do significado de parabole e marshal está a ideia de uma comparação entre duas coisas dessemelhantes. A realidade de nosso mundo é posta em contato com um mundo narrativo da parábola para alguma comparação que produza uma nova compreensão.”[5]
As parábolas de Cristo estão correlacionadas com outras figuras de linguagem. As “similitudes” geralmente falam de costumes no tempo presente fazendo uma comparação entre dois elementos e usam geralmente as expressões como, assim como, tal qual, tal como. Pedro usou uma símile quando escreveu: “toda humanidade é como a relva” (1 Pedro 1:24). As parábolas falam de um determinado momento do passado (e.g., “o semeador saiu a semear” [Mateus13:3]). Também são perceptíveis as alegorias. “É uma figura de linguagem, mais especificamente de uso retórico, que produz a virtualização do significado, ou seja, sua expressão transmite um ou mais sentidos que o da simples compreensão ao literal.”[6] Enquanto que a parábola consiste num acontecimento factível, a alegoria pode ser tanto factível como fictício. “Olhando para todas as parábolas que Jesus contou e as situações variadas em que Ele as proferiu, é razoável afirmar que Ele usou uma variedade de parábolas, algumas das quais eram meros símiles que não precisavam muito de alguma explicação (todos compreendiam imediatamente seu propósito), e outras que poderiam ser mais bem descritas como metáforas ou como de natureza alegórica e precisando de explicação.”[7]
Por que Jesus falava por parábolas?
Assim como a Divindade foi revelada por meio de humanidade de Cristo, ao usar os elementos da natureza em Suas parábolas, Jesus fornecia um veículo poderoso para compreensão das verdades espirituais em Seus ouvintes. “Tão ampla era a visão que Cristo tinha da verdade, e tão extensos os Seus ensinamentos, que cada aspecto da natureza foi utilizado para ilustrar verdades.”[8] Ensinava com autoridade, já que toda a criação era obra de Suas mãos. “O desconhecido era ilustrado pelo conhecido; verdades divinas, com as quais o povo estava familiarizado.”[9] Mais tarde, quando os ouvintes se deparavam com os objetos ilustrados, vinham-lhes à mente os ensinos de Jesus.
Não eram simples ilustrações como as que estamos acostumados a ouvir num sermão. A parábola envolvia as pessoas em um nível muito aprofundado de reflexão. Eram tão penetrantes que produziam efeitos diversos. Enquanto uns entregavam o coração instantaneamente a Cristo, outros procuravam matá-Lo.
“Ele lhes disse: A vocês foi dado o mistério do Reino de Deus, mas aos que estão fora tudo é dito por parábolas, a fim de que, ainda que vejam, não percebam; ainda que ouçam, não entendam; de outro modo, poderiam converter-se e ser perdoados” (Marcos 4:11, 12).
Percebe-se que o propósito das parábolas de Jesus era multifacetado. Ele as usava para revelar e, ao mesmo tempo, para esconder.  Como “a multidão não julgava as parábolas; eram as parábolas que julgavam as pessoas”,[10] ao ouvinte interessado e sincero era revelado aquilo que anteriormente estava oculto: o mistério do Reino de Deus. Esse grupo sentia o desejo de ganhar a salvação, enquanto o ouvinte desinteressado ouvia a parábola, mas não entendia porque o coração estava endurecido e por achar que sabia tudo. Para esses, restava-lhes apenas o juízo.
Ellen White, no livro Parábolas de Jesus, afirma que nem todos estavam preparados para aceitar e compreender as parábolas do Mestre. Assim, Ele evitava que a multidão incrédula Lhe fizesse alguma acusação e interrompesse Seu ministério de maneira prematura.[11]
Regras para a interpretação de parábolas
No livro Compreendendo as Escrituras,[12] são apresentandas seis regras básicas de interpretação:
1. Evite a alegorização – Inicialmente, é importante diferenciar entre alegoria e alegorização. Como já foi dito, a alegoria usa uma metáfora ampliada para referir verdades fora do significado literal da narrativa. Já a alegorização é o processo de usar algum texto que não é alegórico por natureza e transformá-lo em alegoria, a fim de promover novos significados que originalmente não eram a intenção do autor. O teólogo Agostinho usou a alegorização para dizer que na parábola do Bom Samaritano o homem que descia de Jericó era igual a Adão.[13] Ele não foi o único a usar esse princípio interpretativo. Durante séculos, esse foi o método mais usado, mas seu rompimento teve início no movimento da Reforma e terminou com o erudito alemão A. Jülicher, no século passado.[14]
A alegorização facilita o ato de enxergar qualquer coisa em quase todas as parábolas. Acaba impondo um significado que o autor jamais pretendia.
2. Reúna dados históricos, culturais, gramaticais e léxicos – O mundo em que vivemos é muito diferente do mundo dos aldeões da palestina. Essa distância pode ser amenizada usando-se as descobertas arqueológicas, bem como a leitura de bons dicionários e comentários bíblicos, além de livros que retratam os costumes da época.
3. Analise a narrativa da parábola – “As parábolas têm personagens, ações, cenários e suportes, e relações de tempo; elas têm um narrador e um leitor subentendido, um ponto de vista e um enredo. A Análise destes ajuda o leitor a ver, de forma objetiva, a maneira por que é criado o impacto emocional da narrativa e ajuda a delinear os temas e ênfases da narrativa.”[15]
4. Determine o auditório – Para quem Jesus está falando? Para escribas, Fariseus, às multidões, ou aos discípulos? A compreensão dessas perguntas ajudará o leitor a determinar se a aplicação da parábola é para os de dentro ou de fora da igreja; para grupos ou pessoas. Também observe a reação dos ouvintes de Jesus, pois servirá de excelente pista para o significado das palavras.
5. Use o Espírito de Profecia – Depois da leitura bíblica, essa deveria ser a primeira fonte de pesquisa. O livro Parábolas de Jesus é rico em detalhes e, por ser inspirado, fornece uma interpretação correta das parábolas. Dessa forma, grande soma de tempo pode ser poupada em busca de respostas em outras literaturas.
6. Aplique a parábola à situação de hoje – Identifique o princípio teológico ensinado por Jesus na parábola e aplique-o à sua vida pessoal. Lembre-se de que a aplicação provém da parábola em vez de ser imposta a ela.
(Fabio dos Santos é pastor na Associação Paulista Oeste [distrito de Barretos] da Igreja Adventista do Sétimo Dia)
Referências:
1. Ellen White, Parábolas de Jesus, p. 21.
2. Grant R. Osborne, A Espiral Hermenêutica: uma nova abordagem à interpretação bíblica (São Paulo: Vida Nova, 2009), p. 372.
3. Ibidem.
4. Roy B. Zuck, A Interpretação Bíblica: meios de descobrir a verdade bíblica (São Paulo: Vida Nova, 1994), p. 225.
5. George W. Reid, Compreendendo as Escrituras: uma abordagem adventista (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2007), p. 232.
6. Ver: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alegoria
7. George W. Reid, Op. Cit., p. 225.
8. Ellen White, Parábolas de Jesus, p. 20.
9. Ibidem, p. 17.
10. Warren W. Wiersbe, Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento: v. 1 (Santo André, SP: Geográfica Editora, 2006), p. 157.
11. Ellen White, Op. Cit., p. 21.
12. George W. Reid, Op. Cit., p. 235.
13. Ibidem.
14. Kennet Bailey, As Parábolas de Lucas (São Paulo: Vida Nova, 1995), p. 25.
15. George W. Reid, Op. Cit., p. 236.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Jesus não era cristão

Muita gente pensa que sim. Todavia, a religião de Jesus não era cristianismo. Explico. Jesus não tinha pecado, nunca confessou pecados, nunca pediu perdão a Deus (ou a ninguém), não foi justificado pela fé,  não precisava de um mediador para chegar ao Pai, não tinha consciência nem convicção de pecado e nunca se arrependeu. A religião de Jesus era aquela do Éden, antes do pecado entrar. Era a religião da humanidade perfeita, inocente, pura, imaculada, da perfeita obediência (cf. Lc 23:41; Jo 8:46; At 3:14; 13:28; 2Co 5:21; Hb 4:15; 7:26; 1Pe 2:22). Já o cristão – bem, o cristão é um pecador que foi perdoado, justificado, que nasceu de novo, que ainda experimenta a presença e a influência de sua natureza pecaminosa. Ele só pode chegar a Deus através de um mediador. Ele tem consciência de pecado, lamenta e se quebranta por eles, arrepende-se e roga o perdão de Deus. Isto é cristianismo, a religião da graça, a única religião realmente apropriada e eficaz para os filhos de Adão e Eva.

Assim, se por um lado devemos obedecer aos mandamentos de Jesus e seguir seu exemplo, há um sentido em que nossa religião é diferente da dEle. Quando as pessoas não entendem isso, podem cometer vários enganos. Por exemplo, elas podem pensar que as pessoas são cristãs simplesmente porque elas são boas, abnegadas, honestas, sinceras e cumpridoras do dever, como Jesus foi. Sem dúvida, Jesus foi tudo isso e nos ensinou a ser assim, mas não é isso que nos torna cristãos. As pessoas podem ser tudo isso sem ter consciência de pecado, arrependimento e fé no sacrifício completo e suficiente de Cristo na cruz do Calvário e em Sua ressurreição – que é a condição imposta no Novo Testamento para que sejamos de fato cristãos.

Esse foi, num certo sentido, o erro dos liberais. Ao removerem o sobrenatural da Bíblia, reduziram o Jesus da história a um mestre judeu, ou um reformador do judaísmo, ou um profeta itinerante, ou ainda um exorcista ambulante ou um contador de parábolas e ditos obscuros que nunca realmente morreu pelos pecados de ninguém (os liberais ainda não chegaram a uma conclusão sobre quem de fato foi o Jesus da história, mas continuam pesquisando...). Para os liberais, todas essas doutrinas sobre o sacrifício de Cristo, Sua morte e ressurreição, o novo nascimento, justificação pela fé, adoção, fé e arrependimento, foram uma invenção do Cristianismo gentílico. Eles culpam especialmente a Paulo por ter inventando coisas que Jesus jamais havia dito ou ensinado, especialmente a doutrina da justificação pela fé.

Como resultado, os liberais conceberam o Cristianismo como uma religião de regras morais, sendo a mais importante aquela do amor ao próximo. Ser cristão era imitar Cristo, era amar ao próximo e fazer o bem. E, sendo assim, perceberam que não há diferença essencial entre o Cristianismo e as demais religiões, já que todas ensinam que devemos amar o próximo e fazer o bem. Falaram do Cristo oculto em todas as religiões e dos cristãos anônimos, aqueles que são cristãos por imitarem a Cristo sem nunca terem ouvido falar dEle.

Se ser cristão é imitar a Cristo, vamos terminar logicamente no ecumenismo com todas as religiões. Vamos ter que aceitar que Gandhi era cristão por ter lutado toda sua vida em prol dos interesses de seu povo. A mesma coisa o Dalai Lama e o chefe do Resbolah.

Não existe dúvida que imitar Jesus faz parte da vida cristã. Há diversas passagens bíblicas que nos exortam a fazer isso. No Novo Testamento encontramos por várias vezes o Senhor como exemplo a ser imitado. Todavia, é bom prestar atenção naquilo em que o Senhor Jesus deve ser imitado: em procurarmos agradar aos outros e não a nós mesmos (1Co 10:33–11:1), na perseverança em meio ao sofrimento (1Ts 1:6), no acolher-nos uns aos outros (Rm 15:7), no andarmos em amor (Ef 5:23), no esvaziarmos a nós mesmos e nos submeter à vontade de Deus (Fp 2:5) e no sofrermos injustamente sem queixas e murmurações (1Pe 2:21). Outras passagens poderiam ser citadas. Todas elas, contudo, colocam o Senhor como modelo para o cristão no seu agir, no seu pensar, para quem já era cristão.

Não me entenda mal. O que estou tentando dizer é que para que alguém seja cristão é necessário que ele se arrependa genuinamente de seus pecados e receba Jesus Cristo pela fé, como seu único Senhor e Salvador. Como resultado, essa pessoa passará a imitar a Cristo no amor, na renúncia, na humildade, na perseverança, no sofrimento. A imitação vem depois, não antes. A porta de entrada do Reino não é ser como Cristo, mas converter-se a Ele.  E vc O que acha desta teoria?

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Novas ruínas arqueológicas lançam luz sobre Davi

A figura do rei Davi foi mito ou realidade? Essa é uma pergunta sobre a qual arqueólogos israelenses têm se debruçado há muitas décadas. E acabam de surgir novas pistas: três caixas talhadas em pedra. Com cerca de 20 centímetros, os artefatos eram utilizados para guardar objetos sagrados, acreditam os arqueólogos da Universidade Hebraica de Jerusalém e da Direção Israelense de Antiguidades, que encontraram as peças nos arredores da cidade de Beit Shemesh, a cerca de 35 quilômetros de Jerusalém. Duas das caixas são rosadas e têm uma espécie de pórtico, cuja descrição aparece no Primeiro Livro dos Reis. E suas alturas são exatamente o dobro de suas larguras, como em prédios achados em Jerusalém, o que parece provar a conexão entre a cidade bíblica de Shearaim e a Jerusalém de Davi.
Segundo o arqueólogo Yosef Garfinkel, um dos responsáveis pelo achado, as caixas permitirão interpretar algumas descrições que a Bíblia faz dos reinados de Davi e Salomão. Para o pesquisador, os últimos achados reforçam a corrente que vê na Bíblia, como em qualquer outro texto de sua natureza, um relato fidedigno do que poderiam ser alguns eventos históricos.
“A exatidão das descrições não nos deixa outra opção, e quem não acredita deverá também explicar como é possível semelhante similaridade”, declarou Garfinkel.
Mas quem seria Davi? Nome de origem hebraica, cujo significado é “querido” ou “amado”, Davi foi um dos reis de Israel e o responsável por fazer o maior livro bíblico: os Salmos. Sua figura é particularmente importante para as culturas cristã, judaica e islâmica. No islamismo, é visto como profeta e rei de uma nação; no judaísmo, é encarado como o maior dos reis entre os homens, e no cristianismo Davi é um dos ancestrais do pai adotivo de Jesus, o carpinteiro José.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Veredito: ossuário do irmão de Jesus é verdadeiro

Ela pesa 25 quilos. Tem 50 centímetros de comprimento por 25 centímetros de altura. E está, indiretamente, no banco dos réus de um tribunal de Jerusalém desde 2005. A discussão em torno de uma caixa mortuária com os dizeres “Tiago, filho de José, irmão de Jesus” nasceu em 2002, quando o engenheiro judeu Oded Golan, um homem de negócios aficionado por antiguidades, revelou o misterioso objeto para o mundo. A possibilidade da existência de um depositário dos restos mortais de um parente próximo de Jesus Cristo agitou o circuito da arqueologia bíblica. Seria a primeira conexão física e arqueológica com o Jesus do Novo Testamento. Conhecido popularmente como o caixão de Tiago, a peça teve sua veracidade colocada em xeque pela Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA). Em dezembro de 2004, Golan foi acusado de falsificador e a Justiça local entrou no imbróglio. No mês passado, porém, o juiz Aharon Far¬kash, responsável por julgar a suposta fraude cometida pelo antiquário judeu, encerrou o processo e acenou com um veredicto a favor da autenticidade do objeto. Também recomendou que o IAA abandonasse a defesa de falsificação da peça. “Vocês realmente provaram, além de uma dúvida razoável, que esses artefatos são falsos?”, questionou o magistrado. Nesses cinco anos, a ação se estendeu por 116 sessões. Foram ouvidas 133 testemunhas e produzidas 12 mil páginas de depoimentos.

Especialista em arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém, Rodrigo Pereira da Silva acredita que todas as provas de que o ossuário era falso caíram por terra. “A paleografia mostrou que as letras aramaicas eram do primeiro século”, diz o professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). “A primeira e a segunda partes da inscrição têm a mesma idade. E o estudo da pátina indica que tanto o caixão quanto a inscrição têm dois mil anos.” O professor teve a oportunidade de segurá-lo no ano passado, quando o objeto já se encontrava apreendido no Rockfeller Museum, em Jerusalém.

Durante o processo, peritos da IAA tentaram desqualificar o ossuário, primeiro ao justificar que a frase escrita nele em aramaico seria forjada. Depois, mudaram de ideia e se ativeram apenas ao trecho da relíquia em que estava impresso “irmão de Jesus” – apenas ele seria falso, afirmaram.

A justificativa é de que, naquele tempo, os ossuários ou continham o nome da pessoa morta ou, no máximo, também apresentavam a filiação dela. Nunca o nome do irmão. Professor de história das religiões, André Chevitarese, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, levanta a questão que aponta para essa desconfiança. “A inscrição atribuiria a Tiago uma certa honra e diferenciação por ser irmão de Jesus. Como se Jesus já fosse um pop¬star naquela época”, diz ele. Discussões como essa pontuaram a exposição de cerca de 200 especialistas no julgamento. A participação de peritos em testes de carbono-14, arqueologia, história bíblica, paleografia (análise do estilo da escrita da época), geologia, biologia e microscopia transformou o tribunal israelense em um palco de seminário de doutorado. Golan foi acusado de criar uma falsa pátina (fina camada de material formada por microorganismos que envolvem os objetos antigos). Mas o próprio perito da IAA, Yuval Gorea, especializado em análise de materiais, admitiu que os testes microscópicos confirmavam que a pátina onde se lê “Jesus” é antiga. “Eles perderam o caso, não há dúvida”, comemorou Golan.

O ossuário de Tiago, que chegou a ser avaliado entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões, é tão raro que cerca de 100 mil pessoas esperaram horas na fila para vê-lo no Royal Ontario Museum, no Canadá, onde foi exposto pela primeira vez, em 2002. Agora que a justiça dos homens não conseguiu provas contra sua autenticidade, e há chances de ele ser mesmo uma relíquia de um parente de Jesus, o fascínio só deve aumentar.

(IstoÉ)

Nota: Na verdade, esse assunto deveria ser capa da IstoÉ, mas preferiram falar sobre “sedução”. Estaria a mídia tão seduzida pelo naturalismo/secularismo que prefere não destacar matérias que confirmam fatos relacionados com o cristianismo? Isso mereceria também reportagem de capa na Superinteressante ou na Veja, não acha? É esperar para ver...