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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012



Igrejas cristãs encontram dificuldades para integrar ex-muçulmanos

Fonte: Cristianismo Hoje


Há nove anos atrás, Mohammed Hegazy, então com 16 anos, desistiu dos estudos em uma escola Islâmica após decidir que não queria ser um pregador muçulmano. Transferiu-se para outra escola, sem saber que estava se juntando a uma classe que incluía sete estudantes cristãos. Aquela mudança, em 1999, e a conversão de Hegazy ao cristianismo, um processo que se desenrolou nos anos seguintes e deve-se ao testemunho daqueles seus colegas, deram início a uma série de eventos que terminaram na Suprema Corte Civil do Cairo, a capital egípcia. Em janeiro passado, o juiz Muhammad Husseini recusou-se a dar a Hegazy uma nova carteira de identidade que o registraria como cristão. “Seu coração pode acreditar no que quiser, mas no papel ele não pode converter-se”, sentenciou o magistrado. Hegazy não foi o único egípcio convertido a Cristo a levar sua questão de identidade para o Judiciário. Em outro caso, um juiz permitiu que cristãos convertidos ao Islamismo por divórcio ou emprego pudessem se reconverter ao Cristianismo. Mas as novas cédulas de identidade de doze pessoas nesta situação incluem palavras potencialmente estigmatizantes. O documento traz a seguinte frase: “Cristão, que previamente proclamou o Islamismo como sua religião”.
Em um terceiro caso, um responsável administrativo da Corte ordenou que o governo deveria omitir nas identidades qualquer designação religiosa dos seguidores de Baha’i, uma minoria religiosa marginalizada. No Egito, a carteira de identidade de uma pessoa é seu passaporte para a cidadania, sem a qual não é possível exercer os mais elementares direitos. O documento é necessário, por exemplo, para alugar um apartamento, conseguir um emprego, matricular-se na escola, votar, viajar para outros países e receber serviços do governo. Estes cartões registram não só informações básicas como nome, filiação e data de nascimento, mas também residência legal e confissão religiosa. As únicas opções religiosas são o Islamismo, evidentemente majoritário numa nação árabe, o Cristianismo e o Judaísmo.
Os três casos ganharam enorme atenção na mídia porque o Egito está criando uma nova base de dados para os cartões de identidade de seus cidadãos. Também foram publicados novos procedimentos sobre punições para apostasia em uma nação que já tem um pobre histórico de direitos humanos e é considerada pela Missão Portas Abertas, entidade evangélica que defende a liberdade religiosa, como um dos 20 países onde o Cristianismo mais sofre restrições. Na Igreja At Kasr El Dobara, considerada uma das maiores e mais influentes congregações evangélicas do Oriente Médio, o pastor sênior Sameh Maurice vê como uma vitória espiritual toda esta recente cobertura da mídia. “São tempos melhores para a liberdade de expressão”, disse o religioso a Christianity Today. “O fato de Hegazy ter ido à Corte para fazer tal pedido é algo novo, que nunca aconteceu nos últimos 1.400 anos”, comemora. Sameh acredita que um terremoto religioso está balançando o Oriente Médio, levando muitos fiéis do Islamismo à conversão a Jesus. “Durante anos, centenas converteram-se da fé muçulmana ao Cristianismo. E isso, secretamente. Agora, convertidos escrevem suas histórias, estão em salas de bate-papo virtual. É uma voz que tem sido ouvida pela primeira vez.” Para o pastor, os números vão além das estimativas. “É um iceberg. Se você ouve falar sobre mil, então devem ser 100 mil abaixo da superfície”, especula.
Sonhos e visões
Sameh mostra que as raízes deste ressurgimento evangelístico são o resultado de um avivamento eclesiástico ocorrido nos anos 1970. Ele conta que Menes Abdul Noor, então pastor da Kasr El Dobara, e o pregador ortodoxo Zakarias Botross estavam entre os poucos líderes cristãos no Egito dispostos a assumir o risco de batizar muçulmanos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. As tensões dentro da Igreja Ortodoxa chegaram ao ápice em 1978, quando o papa Shenouda III suspendeu Zakarias do ministério. Autoridades egípcias o prenderam duas vezes por falsificar identidades. Em 1989, o líder deixou o país e desde sua aposentadoria, em 2003, apresenta o influente programa Truth talk (“Conversa sobre a Verdade”) no canal cristão via satélite Al Hayat. Já Menes também enfrentou anos de oposição. “Fui ameaçado, pensei que eu iria morrer. Mas tudo bem”, lembra. Na época, ele ficou mais perturbado com as ameaças que recebeu de que iriam queimar sua igreja, aberta no coração do Cairo por presbiterianos em 1950, sob permissão do então rei Farouk – que depois arrependeu-se de haver concedido autorização para o templo cristão funcionar. “Mesmo que destruíssem a construção, nós a reconstruiríamos e não deixaríamos de evangelizar o povo”, conta, ciente de que protagonizou uma história de fé.
Hoje, Kasr El Dobara não é mais o único bastião do Evangelho nas terras egípcias. “Acho que os ortodoxos estão batizando mais do que os evangélicos. Dez vezes, cem vezes mais do que nós”, reconhece o pastor Sameh. Em um culto dominical recente, ele compartilhou com sua congregação o conselho que ele dá “aos amigos que não são cristãos” quando estes lhe questionam. “Eu digo a eles que peçam a Deus que lhes mostre a verdade. Não conheço ninguém que tenha dito isso a Deus e não tenha conhecido a Cristo depois”, diz, convicto. Este tipo de abordagem ainda está fora da zona de conforto de muitos evangélicos egípcios.
“Eles me aconselham a não fazer isso todo o tempo”, continua Sameh. O pastor conta relatos de muitos muçulmanos que dizem terem sido visitados por Jesus. “O método mais efetivo para a conversão de muçulmanos são as visões e os sonhos. É o trabalho do Espírito Santo, e não o trabalho dos homens, da igreja ou da organização.” Esta abordagem também proporciona aos pastores da Kasr El Dobara sua primeira linha de defesa contra as acusações de proselitismo. Uma vez, autoridades questionaram Menes sobre o batismo de uma mulher que o procurou após ter uma visão de Jesus atravessando as portas de sua casa no Kuwait. “É um problema da polícia local”, respondeu a eles. “Eles não cuidaram da porta e da janela”, brinca. Sameh também identifica o exorcismo, particularmente por pregadores ortodoxos, como motivo de abertura significativa para a abordagem. “Muçulmanos sabem que se você quer se livrar de um demônio, deve ir à igreja. Muitos deles, após serem libertos, são batizados”.
“Firme em Jesus”
Na verdade, o maior desafio vem depois que um fiel deixa Alá para seguir a Jesus. Praticamente todas as igrejas no Egito e em outros lugares do mundo islâmico conhecem a dificuldade de se integrar ex-muçulmanos à vida de uma comunidade cristã – alguns líderes eclesiásticos até questionam se isso é verdadeiramente possível. No distrito de Al Maadi, ao sul do Cairo, Paul-Gordon Chandler serve na Igreja Anglicana St.John Baptist. Criado como filho de missionários no Senegal, na África, cresceu vendo seus pais trabalharem para trazer muçulmanos a Cristo. Viu também estes convertidos serem expulsos de suas famílias – e, raramente, serem aceitos em sua totalidade pelas igrejas locais. Começou a questionar se, por acaso, seria possível para alguém seguir os ensinamentos da Bíblia e continuar muçulmano.
Há alguns anos, Chandler descobriu o trabalho do escritor Mazhar Mallouhi. Depois disso, publicou recentemente o livro Pilgrims of Christ on the Muslim Road (Peregrinos de Cristo na estrada muçulmana), que conta a história de vida de Mallouhi. Há muito tempo associado com evangélicos no Oriente Médio, Mallouhi se descreve como um seguidor de Jesus dentro do Islã. A missão a que se impôs é apresentar as Escrituras Sagradas de uma forma que os muçulmanos a compreendam. Um de seus livros,The Fugitive (O fugitivo), conta a história do filho pródigo em um contexto moderno dentro do Islamismo.
Chandler entende sua missão através de dois pontos: aprender da espiritualidade Islâmica e ajudar seus fiéis a compreender a verdadeira imagem de Cristo. “Estou menos interessado no diálogo entre as religiões, mas muito apaixonado pelas amizades entre as diferentes crenças”, sintetiza. Para o escritor, a verdade é o principal. “Amo a citação de Santo Ambrósio de Milão: ‘Não importa de onde vem toda a verdade, pois vem do Espírito de Deus. O desafio é construir a verdade no outro”.
Até em Kasr El Dobara, onde a igreja tem uma aparência tradicional e recebe os novos convertidos, Menes geralmente os encoraja a manter sua nova fé em segredo. “Uma razão é o fato de que sua nova vida em Cristo tem efeitos sobre suas famílias”, ele diz. “Quando uma família descobre que um de seus membros tornou-se cristão, eles não têm muito do que falar contra o Cristianismo. Em segundo lugar, eles terão tempo de firmar-se na fé. Antes de criar qualquer problema, terão uma base firme”.
Para gente como Mohammed Hegazy e sua mulher, Zeinab – também convertida do Islamismo –, estes debates sobre conversão são temas acadêmicos. Sua situação chega a ser esdrúxula. A não ser que o casal receba seus cartões de identidade como cristãos, o governo irá considerar sua filha recém-nascida como uma muçulmana. Hegazy já recebeu inúmeras ameaças de morte – incluindo uma feita pelo próprio pai, um maometano devoto. Os dois vivem escondidos. “Manter-me fiel é a minha obrigação para comigo, para com minha família e todos os muçulmanos que se converteram ao Cristianismo; enfim, para todos os cristãos.” Hegazy irá apelar na Corte e, caso seja necessário, começar um novo processo. “Coloco minha fé em Deus”, resigna-se.

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