Selo-de-salomão, com o despertar da Primavera |
O despertar da Primavera traz uma explosão de cores, formas e perfumes. O selo-de-salomão (Polygonatum odoratum (Mill.) Druce) que vive escondido no subsolo durante o Inverno, renasce com o chegar da Primavera, sendo difícil não se dar pela sua presença nos raros locais onde o conseguimos encontrar, não pela cor ou odor, mas pela forma e número de indivíduos que crescem numa mesma área. |
A
primeira vez que observei selo-de-salomão foi na Mata da Margaraça,
numa altura em que por lá me encontrava a fazer um estágio. O estágio
iniciou-se antes da Primavera, mas com a chegada desta estação a
natureza despertou, e a presença do selo-de-salomão seduziu-me, pela
forma peculiar das suas hastes arquearem como que reverenciando as
árvores que lhe dão a sombra da qual precisam para se desenvolver.
A
taxonomia vegetal é conhecida pelos muitos pontos de vista sobre o
mesmo problema, o que leva muitas vezes à discordância relativa à
classificação de algumas espécies. A Liliaceae é uma daquelas famílias
que agrupava um grande número de plantas com flor que, mais recentemente
após revisão das características identificativas das diferentes
espécies, acabou por distribuir muitas delas por cerca de trinta
famílias diferentes. O selo-de-salomão é uma dessas plantas, enquadrada
no género Polygonatum que inclui mais de 50 espécies de plantas com
flor, pertencentes à família das Ruscaceae, embora anteriormente
pertencesse à família das Liliaceae.
O
selo-de-salomão é uma planta herbácea vivaz, ou seja, vive mais de dois
anos. Contudo, a sua parte aérea renova-se anualmente a partir de
rizomas (caule subterrâneo alongado e tuberoso, com disposição mais ou
menos horizontal e folhas reduzidas a escamas, onde a planta armazena
substâncias de reserva). Os seus caules subterrâneos brancos
desenvolvem-se a pouca profundidade. Das suas hastes arqueadas saem
folhas elípticas, de margem inteira, dispostas em dois renques
paralelos. As suas flores branco-esverdeadas estão agrupadas em cachos
de duas ou três, encontrando-se resguardadas sob as folhas. Apesar do
epíteto odoratum, que faz
supor que esta seria uma planta de perfume intenso, na verdade a sua
fragrância é agradável mas muito suave, sendo apenas detectável quando
se aproxima o nariz da flor. As flores são hermafroditas, ou seja,
apresentam gineceu (parte feminina da flor, formada pelo conjunto dos
carpelos) e androceu (parte masculina da flor, formada pelo conjunto dos
estames), sendo polinizadas pelas abelhas – polinização entomófila. Os
seus frutos são drupas de cor azul/preta, mas não são comestíveis.
Esta
é uma planta rara, que prefere climas atlânticos, podendo ser
encontrada em bosques muito húmidos e sombrios. Em Portugal não existem
registos da sua presença a Sul da Serra de Sintra. A área de
distribuição natural do selo-de-salomão abrange toda a Europa e
estende-se à Rússia e ao continente asiático.
A
origem do nome selo-de-salomão dever-se-à à forma de carimbo
arredondado com umas estruturas finas que fazem lembrar caracteres
hebraicos, as quais podem ser observadas no Outono – altura em que a
parte aérea da planta seca – quando se puxam as hastes na zona
em que estas se ligam ao rizoma. Por sua vez, a sabedoria popular diz
que o Rei Salomão colocou o seu selo nesta planta quando reconheceu o
seu grande valor medicinal e protector. Muitas culturas atribuem
características quase mágicas a esta planta. Efectivamente, o
selo-de-salomão foi utilizado durante centenas de anos como planta
medicinal com uma grande diversidade de aplicações, tais como contusões,
diabetes, ferimentos, hemorróidas, inflamações, nevralgia,
cardiotónico, diurético ou sedativo.
Ficha técnica:
Família: Ruscaceae
Género: Polygonatum
Espécie: Polygonatum odoratum (Mill.) Druce
Nome vulgar: selo-de-salomão
Aspecto: planta
herbácea vivaz, hastes verdes, pode chegar até a 1 metro de altura, com
20-35 cm de extensão; apresenta caules subterrâneos (rizomas) a partir
dos quais se expande.
Folhas: do caule saem folhas simples, elípticas, de margem inteira, sem pecíolo e dispostas em fila ao longo do caule, dispostas em dois renques paralelos.
Flores:
hermafroditas, branco-esverdeadas, agrupadas em cachos de duas ou três
flores, pendentes, resguardadas sob as folhas; normalmente nascem nos
segundos caules arqueados; floresce entre Maio e Junho.
Fruto: drupas azuis/pretas com 1,5 cm de diâmetro, tóxicas; surge entre Julho -Setembro.
Habitat: prefere climas atlânticos, bosques húmidos e sombrios.
Distribuição:
a área de distribuição natural do selo-de-salomão abrange toda a
Europa, estendendo-se à Rússia e ao continente asiático; em Portugal, a
área natural de distribuição é o Norte e Centro, não existindo registos
da sua presença a Sul da Serra de Sintra.
Curiosidades: os
antigos romanos, no primeiro dia de Maio, queimavam olíbano e
selo-de-salomão e penduravam grinaldas de flores diante dos seus altares
em honra aos espíritos guardiães que olhavam e protegiam as suas
famílias e as suas casas.
Dizia-se que as bruxas queimavam o selo-de-salomão nas suas fogueiras como protecção.
Na
medicina popular, a infusão do seu rizoma é utilizada como diurético e
estimulante do metabolismo; a maceração dos seus rizomas em álcool pode
ser utilizada para aliviar dores reumáticas (utilização tópica).
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segunda-feira, 29 de outubro de 2012
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